Antes de ter sido chamado para ser um Setenta de Área, enfrentei uma das fases mais desafiadoras na minha jornada da fé. Devido a dificuldades financeiras, não tínhamos dinheiro para comprar comida, o que nos levou a vender todos os nossos bens. Ver a minha esposa a despojar-se das lembranças queridas da sua avó e da sua mãe foi extremamente doloroso. Uma vez que o nosso carro estava sem gasolina, eu andava pela nossa cidade à procura de uma casa de penhores.
Enquanto caminhava, lembrei-me duma conversa que tinha tido com um grande amigo meu, num momento em que ele estava a passar por grandes desafios. Numa tentativa de o ajudar, aconselhei-o a cultivar a gratidão. A resposta dele chamou-me a atenção: “Para me sentir grato, tenho de pensar em alguém que esteja a passar por problemas piores do que os meus! É dificílimo encontrar alguém assim”. Eu identificava-me profundamente com este sentimento, pois sentia-me emocionalmente encurralado no meio do sofrimento da minha mulher e da tristeza dos meus filhos, apesar de ter depositado a minha confiança no Salvador. Ele disse-me: “Tu és meu” (1). Ele escolheu-me com a promessa de fazer de mim “o seu povo próprio” (2) e de “exaltar[-me] sobre todas as nações que fez” (3). Eu tinha seguido fielmente as práticas do dízimo, do jejum, da oração e da adoração no templo, mas as prometidas “janelas do céu” (4) continuavam trancadas e eu sentia-me abandonado.
Nos momentos de grande aflição, adotei a prática de fazer duas perguntas fundamentais ao divino: “Senhor, o que desejas que eu faça? O que desejas que eu aprenda?” Quase instantaneamente, um pensamento emergiu: “E aconteceu que construiu um altar de pedras e fez uma oferta ao Senhor e rendeu graças ao Senhor nosso Deus”. (5) Tal feito fez com que eu contemplasse a situação de Leí, que, sem que tivesse culpa, foi impelido a abandonar o seu lar, e deixar para trás as suas posses, inclusive a “sua casa e a terra [da] sua herança e [o] seu ouro e [a] sua prata e [as] suas coisas preciosas; e nada levou consigo”. (6) Tendo passado toda a sua vida em Jerusalém e tendo deixado para trás os sonhos de uma vida e os frutos do seu trabalho, Leí enfrentou um desafio praticamente insuperável. No entanto, a gratidão era o princípio pelo qual ele vivia e buscava a salvação. “Grandes e maravilhosas são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso!” (7)
De facto, para Leí, a gratidão não dependia das circunstâncias; era uma decisão com um objetivo específico: Jesus Cristo. Foi assim que descobri, com gratidão: “Se eu subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também”. (8) Durante as minhas provações, adotei a prática de construir altares de gratidão diariamente através da oração. O meu objetivo era ser grato sem comparações e expectativas e sem depender das circunstâncias externas — uma mudança profunda de perspetiva.
No início de cada oração, direcionava deliberadamente os meus pensamentos para a vida e missão do meu Salvador. Este processo foi transformador. À medida que eu expressava a minha gratidão sincera, o Espírito dava testemunho das verdades da misericórdia e da graça mais intensamente. Graças a esta prática, ganhei um testemunho da “finalidade deste último sacrifício” (9) do meu Salvador e que as Suas “entranhas estão cheias de compaixão por [nós]” (10).
Ele conhecia-me perfeitamente nas Suas entranhas de misericórdia. À medida que a expressão da minha gratidão se manifestava, a minha fé aprofundava-se e a minha alma alegrava-se. Vim a perceber que estes altares diários de gratidão estavam a preparar o caminho para o “trono da graça” (11). Fomos abençoados tanto material como espiritualmente nos dias que se seguiram. Mas, por tudo o que passei, não gostaria de ter trocado de lugar com nenhum rei. As minhas provações guiaram-me a conhecer e a aproximar-me do meu Salvador Jesus Cristo. Ele vive!
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Isaías 43:1
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Deuteronómio 7:6
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Deuteronómio 26:19
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Malaquias 3:10
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1 Néfi 2:7
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1 Néfi 2:4
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1 Néfi 1:14
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Salmos 139:8
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Alma 34:15
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3 Néfi 17:6,7
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Hebreus 4:16